Captação líquida positiva da poupança é boa notícia para o setor imobiliário
Corte de Juros no Crédito Imobiliário: Perspectivas. O volume financeiro de depósitos superior ao dos saques da caderneta de poupança registrado em março – caso tenha continuidade nos próximos meses – pode abrir caminho para o tão esperado início dos cortes dos juros do crédito imobiliário com recursos da aplicação preferida dos brasileiros. Quando isso ocorrer, beneficiará, principalmente, a classe média – segmento mais dependente de financiamento com esse funding – para a compra da casa própria.
Em março, a poupança registrou captação líquida de R$ 1,3 bilhão, segundo dados do Banco Central (BC), como resultado de R$ 324,7 bilhões aplicados e R$ 323,4 bilhões retirados. Foi a primeira vez no ano em que as entradas superaram as saídas, o que pode ter refletido tanto a Selic em baixa quanto a diminuição do endividamento da população – ainda que continue em patamar elevado.
No primeiro bimestre, os financiamentos imobiliários com recursos da poupança caíram 10,4%, na comparação com o mesmo período de 2023, para R$ 20,1 bilhões, conforme os dados mais recentes divulgados pela Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). Em número de unidades, a queda foi de 25%, para 58,8 mil. À medida que a poupança voltar a atrair recursos, esse desempenho poderá melhorar.
No ano passado, a captação líquida negativa da poupança ficou negativa em R$ 87,8 bilhões. A saída líquida recorde de recursos – R$ 103,24 bilhões – tinha sido registrada em 2022 como resultado da fuga de investimentos para aplicações financeiras mais rentáveis, em um ambiente de juros elevados, e da retirada de dinheiro para pagamento de dívidas por parte dos brasileiros.
Participantes do setor imobiliário têm expectativa de que os custos dos empréstimos para produção e compra de imóveis residenciais fiquem mais baratos quando a poupança voltar a receber mais recursos do que perder – pontualmente, isso já ocorreu, mas é preciso que o desempenho se firme como tendência – e quando a Selic cair para um dígito.
Em relação à taxa básica de juros, o mercado tem se mostrado mais apreensivo em relação ao momento em que isso poderá ocorrer. Recentemente, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC se comprometeu apenas com mais um corte de 0,5 ponto percentual da Selic.
O mundo todo acompanha as sinalizações do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, sobre os rumos da política monetária da maior economia do planeta. Enquanto as taxas americanas se mantiverem em patamar recorde, a redução da Selic seguirá desafiadora. Há também questões domésticas, como a preocupação com as contas públicas e com a inflação brasileira, que pesam na decisão do Copom.
Pegando emprestado um termo usado pelo agronegócio, o setor imobiliário aguarda que vários desafios “fora da porteira” – como o custo do crédito – sejam equacionados e voltem a estimular, em maior proporção, lançamentos e vendas de moradias.
Se olhamos pelo retrovisor, vemos que as condições macroeconômicas atuais são melhores do que as de um ano atrás, mas é preciso que os avanços continuem. A taxa básica de juros está em 10,75%, ante 13,75% em abril do ano passado. Em março, a poupança registrou mais depósitos do que saques, enquanto no terceiro mês de 2023, as saídas superaram as entradas em R$ 6,1 bilhões.
“Dentro da porteira”, incorporadoras têm se empenhado para melhorar margens e buscado licenças para colocar projetos imobiliários na rua. Dados divulgados recentemente pelo Secovi-SP apontam que o volume de unidades residenciais novas vendidas em São Paulo – maior mercado residencial do Brasil – cresceu 42%, em fevereiro, na comparação anual, para 6.600. Os lançamentos aumentaram 156%, para 4.467 unidades.
Chama a atenção também o aumento dos preços médios com que os produtos têm chegado ao mercado. Segundo levantamento da Hiperdados realizado em março, o valor médio por metro quadrado lançado no Brasil foi de R$ 9.977, o que representa alta de 10,14% em 12 meses e aumento de 0,5% em relação a fevereiro. Na cidade de São Paulo, a expansão anual chegou a 6,31% e o incremento mensal foi de 0,85%, para R$ 12.338.
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