Mão de obra qualificada para construção seguirá como desafio em 2024
O setor imobiliário continuará a enfrentar, em 2024, o desafio de encontrar mão de obra qualificada para a construção dos empreendimentos, com destaque para a fase de acabamento dos imóveis. O desafio se faz presente, principalmente, na capital paulista – mercado mais pujante do país.
A escassez de mão de obra qualificada foi apontada como a terceira maior dificuldade por construtoras, em novembro, segundo sondagem do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre), atrás apenas de competição no próprio setor e de demanda insuficiente.
Por um lado, a necessidade de pessoal especializado nas obras de edificações tende a diminuir, no médio prazo, considerando-se menos lançamentos imobiliários neste ano do que em 2022. Por outro, haverá mais demanda de profissionais para obras de infraestrutura, em 2024, principalmente no primeiro semestre, considerando-se as eleições municipais.
Incluindo edificações, autoconstrução e infraestrutura, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor de construção civil terá crescimento de 2,9%, no próximo ano, ante a expansão de 1,2%, em 2023, conforme projeção do FGV-Ibre e do Sinduscon-SP.
Em dezembro de 2022, havia expectativa que o PIB setorial aumentaria 2,4%, neste ano, mas a queda de 2,8% do consumo de materiais pelas famílias para produção própria de moradias e reformas resultou na frustração das expectativas, segundo Ana Maria Castelo, coordenadora de projetos da construção do Ibre-FGV.
Juros e endividamento das famílias ainda em patamares elevados, apesar de menores do que há um ano, são as principais explicações para a piora do desempenho das vendas do varejo de materiais de construção para o chamado “consumo formiguinha”.
Mesmo com a melhora dos indicadores de emprego e renda, ressalta a coordenadora de projetos da construção do Ibre-FGV, isso não se reverteu em maior consumo de materiais pelas famílias. De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), a comercialização de cimento caiu 2,1%, no acumulado de janeiro a outubro, para 52,1 milhões de toneladas.
De janeiro a setembro, os lançamentos imobiliários residenciais nacionais caíram 16%, e as vendas tiveram queda de 3% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo levantamento da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).
Olhando os números da Hiperdados que concentram informação imobiliária de cidades que residem 1/3 da população brasileira, nos onze primeiros meses de 2023 foram mais fracos que o mesmo período em 2022 em 4%.
Ainda assim, o mercado formal da construção se mostrou bastante aquecido em 2023, como resultado dos projetos apresentados nos últimos anos.
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) compilados pelo Ibre-FGV apontam expansão das vagas com carteira assinada no setor. No segmento de edificações, houve incremento de 6%, em infraestrutura, alta de 6,1%, e em serviços, crescimento de 8,6%.
Com o aumento dos empregos na construção, mais gente está se qualificando para trabalhar na área, o que tende a, pelo menos, atenuar o problema de mão de obra insuficiente.
Nos dois anos entre o segundo semestre de 2020 e o primeiro semestre de 2022, os custos de produção de empreendimentos foram muito impactados pela pressão de preços de materiais decorrente do aumento da demanda por insumos. Em 2023, ocorreu o movimento inverso, com queda de preços de materiais.
Não se espera, no curto prazo, retomada de alta dos insumos. No próximo ano, os juros tendem a seguir em trajetória de redução, com taxas menos restritivas contribuindo para aumento de lançamentos e vendas para a classe média.
A mediana das estimativas dos economistas do mercado para a Selic foi mantida em 11,75%, no fim deste ano, e em 9,25%, no encerramento de 2024, segundo o Boletim Focus mais recente. Para o fim de 2025, porém, a mediana das projeções caiu de 8,75% para 8,50%.
As contratações do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida devem crescer, assim como os investimentos em infraestrutura. Vamos torcer para que as expectativas se confirmem e a estimativa de aumento de 2,9% no PIB da construção possa ser alcançada no ano que vem.
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