Hiperdados: Incertezas da economia podem afetar ritmo de crescimento do setor de incorporação
As perspectivas para o setor de incorporação seguem positivas, mas incertezas da economia doméstica e internacional podem afetar o ritmo de retomada do crescimento. A atividade de incorporação, por ter um ciclo de longo prazo e dependente do financiamento à produção e à compra, não pode prescindir do olhar, com lupa, as tendências de fatores como inflação e juros para a tomada de decisões de investimentos.
Diferentemente de boa parte do mundo, o Brasil têm conseguido controlar sua inflação, e já iniciou seu ciclo de baixa da taxa básica de juros. Espera-se que, até meados do próximo ano, o crédito imobiliário fique mais barato, refletindo a Selic em queda.
Neste mês, economistas de mercado ouvidos pelo Boletim Focus, do Banco Central, passaram a esperar que o topo da meta inflacionária seria alcançado, com projeção de 4,75% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no acumulado do ano. Na última segunda-feira, o Focus trouxe nova revisão para baixo da média das estimativas para o indicador: desta vez, de 4,65%. Ou seja, abaixo do teto da meta.
No próximo dia 1º, a autoridade monetária brasileira informará sua nova decisão em relação à Selic – atualmente, em 12,75% ao ano. A média das projeções de economistas de mercado para o fim de 2023 aponta para taxa básica de juros de 11,75%. Para que a expectativa seja confirmada, o Copom precisa cortar 1 ponto percentual da Selic, o que pode significar redução de 0,5 ponto percentual em cada uma das reuniões que faltam.
Na prática, a tendência de redução do custo de capital prossegue, no Brasil, mas a expectativa de que os juros dos Estados Unidos – maior economia do mundo – sigam elevados por mais tempo traz incertezas em relação a qual será, de fato, o ritmo de cortes da Selic.
Em outubro, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) – calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) – caiu 3,8 pontos, para 93,2 pontos. Foi o menor patamar desde junho, indicando piora da confiança em relação ao momento e às expectativas para os próximos meses.
Mesmo com os juros em queda, o endividamento das famílias e a inadimplência continuam elevados. Por outro lado, as estimativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano estão na faixa de 2,8% a 3%, muito acima das projeções do início de 2023, que apontavam para expansão inferior a 1%.
E como esses fatores se refletem na compra de imóveis residenciais em cada faixa? Consumidores de alta renda continuam menos afetados pelas condições macroeconômicas do que os dos demais segmentos, pois não têm a mesma necessidade de financiamento imobiliário por contarem com patrimônio que pode ser usado nas aquisições.
A classe média segue como a faixa mais impactada pelas variações dos indicadores da economia e pelas perspectivas em relação a emprego, renda e taxas de juros. Parte dos consumidores espera novos cortes da Selic para bater o martelo em relação à compra de um imóvel, que costuma ser a aquisição de valor mais elevado da vida.
Na baixa renda, comprar a casa própria depende, principalmente, de as parcelas caberem no bolso dos consumidores, possibilitando a troca dos gastos com aluguel por desembolsos com as prestações.
As mudanças do programa habitacional deram impulso ao segmento, atraindo clientes e incorporadoras, mas não se espera novos anúncios que possam fomentar ainda mais o Minha Casa, Minha Vida. Do lado de quem produz, há preocupação com qual fatia do mercado potencial será possível contar, considerando-se que as alterações do programa atraíram novos concorrentes.
Incorporadoras estão atentas também a qual será o resultado do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do índice de correção do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O ministro do STF Luís Roberto Barroso defende que o FGTS tenha remuneração mínima aos cotistas igual à da poupança, de 6,17% mais TR ou 70% da Selic. Atualmente, as contas do fundo são remuneradas com TR mais 3% ao ano.
Em síntese, as expectativas para o setor continuam promissoras, mas diante da forte correlação do desempenho da construção com a economia é preciso manter o acompanhamento dos fatores internos e internacionais que possam afetar financiamentos e tomada de decisões de produção e na compra de imóveis. Seguimos na torcida pelo reflexo da diminuição da taxa básica de juros nos custos do crédito habitacional.
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